Tão distante que sinto saudades de mim. Sei que não sumi porque às me vejo de relance. Na vergonha da criança que divide o elevador com gente grande, na liberdade do cachorro que mija no poste da Paulista, no susto do avião que às vezes passa pertinho demais.
Aí, fico em dúvida se estou longe. Ou se quebrei e me espalhei por aí.
Monday, December 21, 2009
Depois
Ele olha para a mulher e sente vontade de futuro. De ser velho e estar revivendo esta mesma cena. Relembrando o que está ali agora. Estar certo do que tem certeza. Mas a mulher está ali e, por mais que procure, ele não encontra nenhuma ruga. É preciso ter paciência.
Friday, November 6, 2009
Torcendo
Para chover quando você chegar.
Para cairem pedras de gelo desse tamanho quando você chegar.
Para a cidade congelar em engarrafamentos assim que você chegar.
Para você chegar, ouvir no rádio, ver na janela e confirmar na TV.
E aí, sugerir que a gente fique em casa o dia todo.
Afinal, com esse tempo...
Para cairem pedras de gelo desse tamanho quando você chegar.
Para a cidade congelar em engarrafamentos assim que você chegar.
Para você chegar, ouvir no rádio, ver na janela e confirmar na TV.
E aí, sugerir que a gente fique em casa o dia todo.
Afinal, com esse tempo...
Thursday, November 5, 2009
Arranque
Os contos ruins da gaveta.
Bote logo num blog, num livro, num zine.
Escreva. E principalmente mostre.
Para alguém em quem você não confie.
Tem coisa que não melhora. Não insista.
Exorcize um, dois, quantos forem.
Se não sobrar nada, melhor assim.
Antes com os outros que contigo.
Bote logo num blog, num livro, num zine.
Escreva. E principalmente mostre.
Para alguém em quem você não confie.
Tem coisa que não melhora. Não insista.
Exorcize um, dois, quantos forem.
Se não sobrar nada, melhor assim.
Antes com os outros que contigo.
Eficiência
Nem toda fotografia é arte.
Nem toda literatura é séria.
Um cineminha também faz parte.
Porque nem toda palavra é dor.
Nem toda literatura é séria.
Um cineminha também faz parte.
Porque nem toda palavra é dor.
Tuesday, October 20, 2009
Mensagem De-Para
Fosse a caneta, mais redonda a letra.
Fosse papel, menos azul.
Na tela, o login roubado
A escrever resposta do mesmo lado:
Meu peito, meu pulso, meu nariz
Acolhe e pensa,
Marca da amarra do elástico,
Cheira o cansaço da espera
Porque você me dá história.
Fosse papel, menos azul.
Na tela, o login roubado
A escrever resposta do mesmo lado:
Meu peito, meu pulso, meu nariz
Acolhe e pensa,
Marca da amarra do elástico,
Cheira o cansaço da espera
Porque você me dá história.
Friday, October 16, 2009
Vá
Esperar a sua mulher no aeroporto dia desses.
Saia de casa cedo demais, corra e chegue bem antes da hora. Esqueça o celular no carro, esqueça o número do vôo, escolha um lugar privilegiado. Ao lado da porta, na frente dos outros, empurrando a fita de isolamento, espere. Olhe cada passageiro querendo que seja. E espere. Tente advinhar o voô pelas roupas dos que chegam, tente encontrá-la pelas malas que giram lá no fundo, não consiga. E espere. Olhe lá longe. Arrastando a mala que você não achou, o cansaço da semana que você não viu; é ela. Arrastando a asa para você. Tá esperando o quê? Termine o conto. Comece outro.
Saia de casa cedo demais, corra e chegue bem antes da hora. Esqueça o celular no carro, esqueça o número do vôo, escolha um lugar privilegiado. Ao lado da porta, na frente dos outros, empurrando a fita de isolamento, espere. Olhe cada passageiro querendo que seja. E espere. Tente advinhar o voô pelas roupas dos que chegam, tente encontrá-la pelas malas que giram lá no fundo, não consiga. E espere. Olhe lá longe. Arrastando a mala que você não achou, o cansaço da semana que você não viu; é ela. Arrastando a asa para você. Tá esperando o quê? Termine o conto. Comece outro.
Friday, October 9, 2009
Penso
no desenho que o elástico de cabelo deixou no seu pulso,
na dobrinha da sua orelha,
no gelado do seu nariz.
E por hoje é só.
Amanhã arrisco um pouquinho mais.
na dobrinha da sua orelha,
no gelado do seu nariz.
E por hoje é só.
Amanhã arrisco um pouquinho mais.
Monday, October 5, 2009
Friday, September 25, 2009
Encruzilhada
Um homem me estica palavras redondas num papel.
–A rua do papel é a da placa?, diz espremendo os olhos.
–É.
–É que eu leio mas não vejo, mente e sorri.
–Sei como é, minto e sorrio.
Eu tenho mais dentes. Ele, mais sorrisos.
–A rua do papel é a da placa?, diz espremendo os olhos.
–É.
–É que eu leio mas não vejo, mente e sorri.
–Sei como é, minto e sorrio.
Eu tenho mais dentes. Ele, mais sorrisos.
Tuesday, September 15, 2009
Monday, September 14, 2009
Vestida de cinza
A cidade espera,
Os carros esperam,
As pessoas esperam.
A chuva não espera por ninguém.
Os carros esperam,
As pessoas esperam.
A chuva não espera por ninguém.
Friday, September 4, 2009
Faltas
–Não tenho parede descascando nem guardo meus livros em caixas de fruta. A grana não sobra nem falta. Família está bem, o amor tá jóia rara/
–Desculpe, mas já deu 45 minutos.
–Semana que vem eu volto.
–Desculpe, mas já deu 45 minutos.
–Semana que vem eu volto.
Wednesday, September 2, 2009
Wednesday, August 26, 2009
Às vezes
Acho que Calvino me despiu da fantasia.
Só vejo Rubem Braga roubando ideias com um puçá de catar piaba.
Ou Borges tateando quinas na minha cabeça e espremendo pensamentos como pulgas.
Aí, encho o peito de vazio e leio um bom livro para reatar o romance.
Só vejo Rubem Braga roubando ideias com um puçá de catar piaba.
Ou Borges tateando quinas na minha cabeça e espremendo pensamentos como pulgas.
Aí, encho o peito de vazio e leio um bom livro para reatar o romance.
Friday, August 21, 2009
O tempo que passa
É pele sobre a pele. São camadas que se acumulam, é poeira.
Vez em quando preciso tomar um banho longo, desses que matam o planeta. E te dar um esfregão forte para arrancar o que não presta.
Só assim o tempo pára.
Vez em quando preciso tomar um banho longo, desses que matam o planeta. E te dar um esfregão forte para arrancar o que não presta.
Só assim o tempo pára.
Wednesday, August 19, 2009
Novas diretrizes
Sabe aquele homem lá fora?
Tá vendo o cara barrado na portaria?
Aquele sujeito encarando a tua batata frita?
O da saúde curta e fôlego frágil, ali, todo encolhido de chuva?
Aquilo, meu filho, é um fumante.
*livremente inspirado por Marcelino
Tá vendo o cara barrado na portaria?
Aquele sujeito encarando a tua batata frita?
O da saúde curta e fôlego frágil, ali, todo encolhido de chuva?
Aquilo, meu filho, é um fumante.
*livremente inspirado por Marcelino
Tuesday, August 11, 2009
É sério
O céu desanuviar só o suficiente para o sol espiar a gente,
é sério.
Você chorar de rir até o lápis repintar os olhos,
é sério.
A gente decidir se tira o pijama ou almoça assim mesmo,
é bem sério.
O resto, minha cara, é palhaçada.
é sério.
Você chorar de rir até o lápis repintar os olhos,
é sério.
A gente decidir se tira o pijama ou almoça assim mesmo,
é bem sério.
O resto, minha cara, é palhaçada.
Friday, July 31, 2009
Cão
Você sai para trabalhar cansado em um dia chuvoso.
Você podia ficar em casa, podia ficar doente, podia tirar férias.
Você não pode.
Seu cachorro observa você sair e inclina a cabeça tentando entender.
Ele sabe quem manda.
Você podia ficar em casa, podia ficar doente, podia tirar férias.
Você não pode.
Seu cachorro observa você sair e inclina a cabeça tentando entender.
Ele sabe quem manda.
Monday, July 20, 2009
D.R.
-Você ainda vai me amar se eu ficar gorda e enrugada?
-Hum... acho que não.
-Filho da _!
-E você pretende ficar gorda e enrugada?
-Claro que não!
-Então não tem com o que se preocupar.
-Hum... acho que não.
-Filho da _!
-E você pretende ficar gorda e enrugada?
-Claro que não!
-Então não tem com o que se preocupar.
Wednesday, July 15, 2009
Monday, July 13, 2009
SMS
Amavam-se por correspondência.
Igualaram endereços, mas não deu certo.
Dizem que ela fugiu com o carteiro.
Igualaram endereços, mas não deu certo.
Dizem que ela fugiu com o carteiro.
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