Aos poucos

A gente inventa um idioma que ninguém fala e nem a gente entende.

Cantada

– Eu não sei receber elogios...
– A gente treina.

Sim

Quero tanto responder
que dispenso a sua pergunta.

Debate

– Como foi que você subiu aí?
– É igual andar, ué.
– Mas você está subindo com os pés e as mãos...
– Então é igual andar para cima com pé e mão.
– E isso é andar?
– Claro que não. É subir na árvore, tonto.
E sai andando. Confiante e para cima.

Essa casa

Só é minha quando você toma posse.

Minha cama

tem um buraco com o seu nome.

Tentando ler João Cabral

Às vezes penso que a poesia não fala mais com o mundo.

Mas, no fundo, é o mundo que não anda falando poesia.

Fé

– Isso é um T?

– É sim.

– Mas parece um F.

– É que é a inicial do nome do meu namorado...

– O F?

– O T.

– Hum... você vai tatuar assim mesmo ou quer que eu redesenhe?

– É para parecer com T e com um F mesmo.

– Posso perguntar o porquê?

– Porque se não der certo o amor, a tatuagem vira "Fé".

Vendedora

–Pode combinar com cachecol, mini-saia ou lingerie. Olha, vergonha vai bem com tudo.

Venta

E as camadas de você espalham-se pelos meus cantos. Ocupam todo o espaço que não tenho. Espremem, apertam, sufocam. Você é tanto que me pergunto se sobra matéria para você existir. Aí, longe.