Morreu um homem que eu não conhecia. Na verdade, não morreu ontem; fiquei sabendo ontem. Para mim, foi ontem.
Vendia bonecos de retalho nas madrugadas, nos bares. Sempre me arrancava uns sorrisos, menos freqüentemente uns trocados.
Certa vez, sabendo do meu aniversário, perguntou se eu não queria encomendar uma caricatura. “Não fica igual”, avisou. Eu ri e deixei por isso mesmo. Perdi para sempre a oportunidade de ser eternizado na sua galeria de pano, ao lado de Zé Celso e da simpática cobrinha Tuli-Tuli.
Os botecos perderam mais um personagem. Posso dizer que das pessoas que não conheci, ele era a mais bacana.
Wednesday, September 19, 2007
Tuesday, September 18, 2007
Despedida de solteiro
– É tudo muito infantil. Coisa de quem teve que se reprimir muito tempo, daí vem para esse tipo de lugar/
– Puteiro.
– Hein?
– Este lugar é um puteiro.
– Ok, ok. Vêm ao puteiro para lembrar algo que se julga estar perdendo. Eu não estou interessado, obrigado.
– Nem de graça?
– É de graça?
– Não.
– Nem de graça.
– Puteiro.
– Hein?
– Este lugar é um puteiro.
– Ok, ok. Vêm ao puteiro para lembrar algo que se julga estar perdendo. Eu não estou interessado, obrigado.
– Nem de graça?
– É de graça?
– Não.
– Nem de graça.
a semiótica e o rango
Uma vez me disseram que o homem que nasceu cego dorme de olhos abertos. A frase sempre me pareceu um ditado japonês mal traduzido, algo que deveria ser bonito no original.
Ao longo dos anos, machuquei cascas de árvore, cartas de amor e ódio com essas palavras. Pelos meus cálculos, a recitei em voz alta oito vezes, sendo que em pelo menos uma delas eu estava sóbrio, e em outras duas troquei a palavra “cego” por “o homem que nada vê” (que julguei reforçar o aspecto intraduzível da coisa toda).
Ontem de madrugada, abri a porta da geladeira para pegar a última fatia gelada de pizza de calabreza com azeitonas pretas e, bem na hora em que a pequena luz se acendeu, percebi que nada não fazia o menor sentido.
Ao longo dos anos, machuquei cascas de árvore, cartas de amor e ódio com essas palavras. Pelos meus cálculos, a recitei em voz alta oito vezes, sendo que em pelo menos uma delas eu estava sóbrio, e em outras duas troquei a palavra “cego” por “o homem que nada vê” (que julguei reforçar o aspecto intraduzível da coisa toda).
Ontem de madrugada, abri a porta da geladeira para pegar a última fatia gelada de pizza de calabreza com azeitonas pretas e, bem na hora em que a pequena luz se acendeu, percebi que nada não fazia o menor sentido.
Thursday, September 6, 2007
Monday, September 3, 2007
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