Tuesday, October 16, 2007

Abreviações

Os dois compartilhavam a fila de cinema. Faltou ingresso e eles reconheceram-se. Viram que eram amigos, apesar de não serem.
Naturalmente falaram sobre filas, filmes, livros, tartarugas, pedras, sol, Antártida. Falaram até faltar assunto.
D., 17, propôs uma caminhada a fim e afim de criar coragem para ficar parado e calado. Enfim, levou J., 16, para uma rua que esconderia o acanhamento dos dois.
F., 13, tentava decidir se atacaria primeiro o homem ou a mulher. Haviam lhe dito que casais eram o alvo ideal. A mulher proteje o homem, o homem proteje a mulher, ninguém reage. Disso, ele lembrava. Só não lembrava quem deveria abordar primeiro. Gostava de abordar. É mais fácil abordar que atacar. Checou o revólver. Estava armado.
Quando D. viu F. surgir detrás de uma árvore, acertou um chute, que atirou o garoto longe. De longe, o garoto atirou e acertou.
J. caiu primeiro, D. logo depois. F. atravessou a rua correndo e encontrou um ônibus que o transformou em mais uma letra de mais uma reportagem de mais um jornal. Que só conta o fim da história.

1 comment:

tata muchacha said...

letra de um jornal que na informação só conta pra...
gosto demais dessa coisa de tomar um café pequeno...
doses sensacionais de sabor nas palavras.
bjocas admiradas de, mais uma vez, sinceramente!