que quando agente
se escrevia mais separado que junto
a gente ficava mais junto
que separado
mínimas doses
A alguns quilômetros de Brumadinho (MG), especificamente entre Aranha e Palhano, há uma estrada de terra estreita. Pastos altos dos dois lados. Uma vaca curiosa observa os passantes.
Deve haver muitas estradas iguais a essa, mas nesta estamos eu e você, às onze horas do verão, acompanhados de malas pesadas, roupas leves e o cansaço de um ano inteiro.
A pousada fica logo ali, a três quarteirões. Antes dela, um caminhão de tijolos. A metade já descarregada bloqueia um lado da estrada; o caminhão ocupa o outro. Em cima da carroceria, o rapaz encara o serviço pela metade. Diferente da vaca, não se interessa por nós. Pega um bloco de seis tijolos e coloca de lado. Desce da carroceria, pega o bloco, dá a volta no caminhão e leva até a pilha do outro lado da estrada. Enxuga o suor. Volta e sobe à carroceria outra vez.
Nós três observamos os tijolos. Uns duzentos, calculo. Não sei se você também faz a conta. Ele separa um novo bloco. Você olha pra mim, eu pra você, ele pros tijolos. Decidimos parar o carro e seguir a pé até a pousada. As malas ficam.
Pão de queijo, goiabada, café, mais queijo. A paisagem vai comendo as horas.
Quando voltamos, já no fim do dia, os tijolos estão alinhados, o caminhão foi embora, a vaca sumiu. O carro está exatamente como o deixamos.
Seguimos para a pousada. O verão inteiro diante de nós.
que amanhecemos
com menos sonhos
que sono
Tem dia que faltam letras
pra escrever
na precipitação do espelho
do banheiro
A saudade
embaça o horizonte
E a gente precisa colocar óculos
de canudos tubulares
e altíssima tecnologia
licenciados pelo Chaves
e sorver com força
e assoviar uma memória dividida
e sorrir o sorriso
justo
e transmutar
os monstros gigantes
em moinhos
e vento.